"Não é um livro sobre, mas contra o sionismo", diz Breno Altman durante lançamento de obra em BH
Jornalista lançou o livro "Contra o sionismo - retrato de uma doutrina colonial e racista" na capital mineira
Leonardo Fernandes
Belo Horizonte |
26 de março de 2024 às 17:15
Breno Altman, autor de "Contra o sionismo - retrato de uma doutrina colonial e racista - Leonardo Fernandes
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"Este é um livro de combate". Assim começa a apresentação do livro "Contra o sionismo - retrato de uma doutrina colonial e racista", lançado pelo jornalista Breno Altman na segunda-feira (25), em Belo Horizonte. A atividade, organizada em parceria com o Comitê Mineiro de Solidariedade à Palestina, lotou o auditório da Casa do Jornalista, no centro da capital.
Com linguagem simples e direta, o livro aborda os elementos centrais na história do conflito entre palestinos e israelenses, os eventos de 7 de outubro e a reação desproporcional de Israel. O texto resgata ainda passagens importantes da história do sionismo e denuncia o apartheid imposto aos palestinos pelo Estado ocupante.
“É um livro de conhecimento básico para quem quer ter um primeiro contato mais amplo com o tema sionismo e com a questão palestina”, destaca o autor.
Na mesma segunda-feira (25), o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução que pede um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza até o fim do Ramadã, período sagrado do povo muçulmano. Desde 7 de outubro, o Estado de Israel, com apoio dos Estados Unidos, Inglaterra e outras potências, já matou mais de 30 mil civis palestinos, entre os quais, mais de 90 jornalistas.
Os meios monopolistas de comunicação estão alinhados ao regime sionista
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato MG, Altman aborda esses e outros temas relacionados à luta do povo palestino contra um projeto racista e colonialista, razão da "nakba", a tragédia palestina. Confira:
Brasil de Fato MG: Breno, o que os leitores podem esperar desse livro?
Breno Altman: O livro busca ser uma síntese das principais questões que estão em tela na Palestina. É um livro para quem quer um conhecimento bem organizado, mas básico. O livro é dividido em quatro capítulos: o primeiro relata a situação posterior a 7 de outubro; outro relata a trajetória e a natureza do sionismo; um terceiro capítulo trata e desmonta um dos mitos do sionismo de que o Estado de Israel é a única democracia do Oriente Médio; e um quarto capítulo sobre o que é o antissemitismo. E, finalmente, tem um roteiro de leitura para quem quiser se aprofundar no assunto, com sugestões de livros e breves comentários meus a respeito de cada um deles.
Na apresentação, você afirma que se trata de um livro de combate, por quê?
Porque ele não é um livro acadêmico, não é um livro de estudo, não é um livro sobre o sionismo, é um livro contra o sionismo, como o próprio título estabelece. É um livro escrito no calor dessa batalha, a partir do meu trabalho jornalístico, e que tem como objetivo ser uma arma para que as pessoas, munidas de um conhecimento um pouco maior sobre o tema, possam lutar com maior vigor e maior conhecimento de causa pela questão palestina.
Você acredita que a proporção que o genocídio palestino tomou, inclusive levando à aprovação de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU, o que isolou ainda mais Israel e Estados Unidos, pode promover uma mudança de rumo na criação de um Estado Palestino?
Eu acho que abre uma situação diferente daquela que existia antes do 7 de outubro. A questão palestina caminhava para um arquivo morto da história, ia desaparecer. Então ressurgiu a partir de 7 de outubro com muita força e se transformou na principal questão mundial. E, esse retorno da questão palestina ao centro da agenda mundial faz com que se mobilizem forças que antes estavam paralisadas ou neutralizadas, favoráveis à autodeterminação do povo palestino. Então, eu vejo como um cenário novo, muito difícil, de muito sacrifício humano, mas um cenário no qual o sionismo jamais esteve tão isolado e a questão palestina jamais teve tanta solidariedade.
Entre os mais de 30 mil civis assassinados em Gaza, há cerca de 96 jornalistas que foram mortos pelas forças de Israel. Onde estão os paladinos da liberdade de expressão da imprensa brasileira e como você avalia a postura dos meios de informação comerciais no Brasil em relação ao tema?
Omissos, pusilânimes, escondidos, cúmplices. Os meios monopolistas de comunicação estão alinhados ao regime sionista, estão alinhados aos interesses do sistema imperialista a tal ponto que ficam cegos diante dessa política planificada de extermínio de jornalistas. Porque isso é consciente. O Estado de Israel quer impedir que os fatos da Faixa de Gaza sejam do conhecimento público, quer bloquear o acesso das pessoas à informação, matando jornalistas. E isso é repugnante, tanto o assassinato dos jornalistas, quanto o comportamento desses meios monopolistas de comunicação.
Você tem dito que a esquerda brasileira tem uma dívida com a luta do povo palestino, a que você se refere?
Ao fato de que a mobilização em solidariedade ao povo palestino no Brasil ainda é de baixa intensidade, com uma participação muito pequena dos grandes partidos de esquerda, dos grandes sindicatos e dos principais movimentos populares, com raras exceções. Isso é uma dívida, no sentido de que a esquerda poderia ter muito mais empenho, suas lideranças, seus dirigentes podiam ter muito maior comprometimento, estimulando uma mobilização de maior envergadura.
O Brasil precisa de uma política de ruptura das relações diplomáticas e das relações comerciais com Israel
E em relação a diplomacia brasileira, está no ponto certo?
Naquilo que diz respeito à diplomacia declaratória está no ponto certo. Especialmente o presidente Lula, mais do que a diplomacia, embora depois das declarações do presidente Lula, o Itamaraty esteja adotando uma postura mais combativa, de denúncia do genocídio contra o povo palestino. Agora, o Brasil precisa passar da fase declaratória para uma fase prática, ou seja, a diplomacia brasileira tem agora que atuar com medidas concretas para isolar, enfraquecer e debilitar o regime sionista. E, essas medidas são conhecidas: boicote, desinvestimento, sanções, como o que foi feito com a África do Sul nos anos 80. Uma política de ruptura das relações diplomáticas e das relações comerciais.
Edição: Elis Almeida
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