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É difícil sentir empatia com as vítimas do submarino. Por Luis Felipe Miguel

Nos últimos dias, o mundo acompanhou o drama dos sujeitos que pagaram cerca de um milhão e meio de reais para passar algumas horas no fundo do mar, aglomerados dentro de uma lata sem certificação, controlada por um joystick de videogame.

O dono da empresa, que também estava no submersível, dizia em entrevistas que “segurança é apenas puro desperdício”. Manteve sua geringonça fora da regulamentação existente, afirmando que as regras eram “obscenamente seguras” e impediam a “inovação”.

Em vez disso, exigia dos passageiros que assinassem um termo que o eximia de responsabilidades.

A tentativa de resgate dos bilionários mobilizou navios, aviões e robôs submarinos, que vasculharam uma área de mais de 25 mil km². Um aparato fornecido por organizações estatais, aquelas que o dono do submersível e seus passageiros odeiam, e pago pelos contribuintes.

O esforço foi infinitamente maior do que o visto em outras situações humanitárias, mesmo que de logística bem mais simples. Mas daí as vidas em risco são de imigrantes, não de magnatas.

Os imigrantes arriscam suas vidas por desespero. E os bilionários? Por tédio, certamente, ou pela competição entre eles, que leva a ostentar a capacidade de desperdiçar enormes quantidades de dinheiro em algo absolutamente inútil e sem sentido. Gente que anda de jatinho particular porque acha que até a primeira classe dos voos comerciais é desconfortável demais resolve passar oito horas agachada numa latinha, pretensamente para ver os destroços do Titanic por uma janelinha que mais parece um olho mágico. E sabendo que arriscava a vida por isso.

Vidas vazias, vidas patéticas. Por que é tão difícil ter empatia por elas?

Não faltam memes e piadas sobre o caso. A velha ideia de que arriscar a vida por burrice é uma forma de seleção natural tem aparecido com frequência.

Mas o principal fator que torna tão difícil se comover com o destino dos bilionários é que eles não despertam este tipo de emoção.

As grandes corporações e os super-ricos que as controlam estão sempre ameaçando nossas vidas. Se dá lucro, estão prontos a deixar de lado normas de segurança, usar matéria-prima que faz adoecer, poluir a ponto de ameaça o planeta, sonegar os impostos, espoliar os trabalhadores até a morte, humilhar quem não tem dinheiro. Não prestam contas a ninguém e debocham de todos com suas extravagâncias.

Nem é de hoje. Quando a notícia do naufrágio do Titanic – cujos escombros eram o alvo da expedição do submersível que acabou implodindo – chegou aos guetos negros dos Estados Unidos, as pessoas saíram às ruas em comemoração. Os brancos ricos que haviam morrido eram os mesmos que desprezavam, todos os dias, o sofrimento deles.

É difícil sentir empatia com gente assim. Afinal, por mais que tentem nos desumanizar, continuamos todos apenas humanos.

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