Bolsonaro jamais seria um Zo’é
#FernandoBrito #Tijolaço
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A foto do jovem Tawy Zo’é levando nas costas o pai, Wahu Zo’é, fraco demais para caminhar seis horas até o posto de #saúde mais próximo de sua aldeia, é o maior tapa na cara que se poderia dar em Jair Bolsonaro por conta de sua demoníaca cruzada contra a #vacinação infantil (e também, contra a adulta, como todos sabemos).
Tawy marchou pela floresta para preservar a vida, entre barrancos, rios e animais, para defender vida de quem o fez viver e sobreviver.
Zo’é, nome da etnia, tem um significado simples de entender. Quer dizer “nós”, a palavra que os une e os fez enfrentar uma #história de tragédias.
Os Zo’é sabem, na sua memória coletiva, os perigos de uma epidemia.
Não as conheciam enquanto viviam isolados, mas passaram a entender o que era quando foram contatados por missionários #evangélicos em 1987. Para capturar suas almas, atraíram seus corpos como se atrai peixes com iscas, jogando-lhes “presentes”.
Em 2020, com as imagens impressionantes de Sebastião Salgado, o jornalista Leão Serva conta a história da tragédia que sucedeu a esta “pescaria de almas”.
20% dos Zo’é contatados pelos missionários morreram e outros tantos ficaram cegos, ou quase, por formas graves de conjuntivite viral ou por tracoma.
Só existem como comunidade porque, no início do governo Collor, o indigenista Sidney Possuelo, na #Funai, saiu em seu socorro, expulsou os “missionários” e levou assistência médica aos índios, restabelecendo, tanto quanto possível, a independência da sua vida.
Mas eles não desistiram e, no Governo Bolsonaro, voltaram à carga. Para a direção do departamento de índios isolados da Funai nomearam Ricardo Lopes Dias, um ex-missionário da Missão Novas Tribos do Brasil, a mesma que havia levado dor e morte aos Zo’é há mais de 30 anos.
Gente desta “tribo” canibal de mentes foi flagrada planejando atacar de novo a tribo. ““Nós vamos voltar para os Zo’é. Não sei como, mas nós vamos voltar”, diz um deles, Edward Gomes da Luz, ameaçando com a #evangelização forçadas: “A pessoa ou vai ajoelhar voluntariamente, adorando [ao deus #cristão] , ou vai ajoelhar #obrigatoriamente, temendo [ao deus cristão]”.
Estes áudios, divulgados pelo The Intercept, ajudaram a derrubar Lopes Dias do cargo, apesar do apoio da ministra Damares Alves.
A história por trás da foto mostra que Tawy Zo’é carrega mais que o velho e quase cego pai e por muito mais tempo que as 12 horas da ida e a volta até o posto de saúde.
É de perguntar ao presidente Jair Bolsonaro, que não quer que as #crianças se vacinem (ou aos generais que consideram capitular aos desejos presidenciais de que os seus soldados não sejam imunizados) se eles têm um milésimo da civilização daquele rapaz.
Não é que lhes falte a força, é que lhes falta o que os Zo’é trazem no nome: o “nós”, o sentido de pertencimento a um povo, uma Nação.
Bolsonaro não é Zo’é, porque lhe falta a ideia da coletividade,
O jovem Tawy jamais diria “e daí? todo mundo morre um dia, mesmo”.