#jamilchade

hudsonlacerda@diasporabr.com.br

Na Corte em #Haia, #Brasil defenderá reivindicações da #Palestina contra #Israel

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https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2024/02/19/na-corte-em-haia-brasil-defendera-reivindicacoes-palestinas-contra-israel.htm

O governo brasileiro vai defender a ideia de um estado palestino e apontar para as violações cometidas pelo estado de Israel nos diversos territórios ocupados. A intervenção do Brasil vai ocorrer amanhã (20), na Corte Internacional de Justiça, em Haia.

Ainda que já estivesse agendada há meses, a participação do Brasil ocorreu num momento de uma crise diplomática profunda entre o governo de Israel e a presidência de Lula.

A Corte máxima da ONU foi acionada a se pronunciar sobre a situação palestina por um pedido da Assembleia Geral da ONU. Em dezembro de 2022, os governos aprovaram uma resolução apelando para que Haia apresente sua opinião sobre as consequências legais da ocupação dos territórios palestinos por Israel. Naquele momento, EUA, Israel e outros 24 países votaram contra.

No apagar das luzes do governo de Jair Bolsonaro, o Brasil optou por uma abstenção no voto da ONU, ao lado de outros 52 países. Mas, em 2023 e já sob o governo de Lula, o país mudou de postura e tomou a decisão política de que iria apresentar sua própria avaliação à Corte. Ao longo da semana, cerca de 50 países farão o mesmo — no que promete ser a maior sessão do órgão judicial da ONU desde sua criação, em 1945.

No caso brasileiro, uma delegação de diplomatas foi deslocada para Haia. O processo do qual o Brasil participará, porém, não é o mesmo que a África do Sul iniciou contra Israel por seus ataques contra Gaza. Não se trata tampouco dos pedidos para o Tribunal Penal Internacional investigue crimes de genocídio por parte de Israel.

Como será a participação do Brasil?

Ao UOL, diplomatas apontam que o discurso do Brasil perante a Corte pode ser um momento chave para que todo o argumento legal do país diante da questão palestina seja esclarecida. Os membros do governo terão 30 minutos para apresentar o posicionamento nacional diante da crise de décadas no Oriente Médio.

A crise que eclodiu depois que Lula comparou o que ocorre em Gaza com os atos nazistas na Segunda Guerra Mundial e a decisão de Israel de declarar o brasileiro como "persona non grata" ampliam ainda mais o interesse sobre a postura que o Itamaraty adotará durante a sessão.

Ao longo da semana, governos irão apresentar seus argumentos legais aos juízes da Corte Internacional de Justiça. Além da própria situação em Gaza, falarão sobre a ocupação de regiões da Cisjordânia e de Jerusalém Leste.

Na primeira sessão da Corte, hoje (19), coube ao chanceler palestino, Riyad al-Malik, usar a audiência para exigir o fim imediato da ocupação dos territórios por Israel.

A única solução consistente com o direito internacional é o fim imediato, incondicional e total desta ocupação ilegal.

Ele ainda acusou Israel de submeter os palestinos a décadas de discriminação e apartheid. Segundo o chanceler, aos palestinos existem apenas três opções: "deslocação, subjugação ou morte".

"O genocídio em curso em Gaza é o resultado de décadas de impunidade e inação. Acabar com a impunidade de Israel é um imperativo moral, político e legal", insistiu al-Maliki.

Em 2004, o mesmo tribunal já condenou Israel, alegando que o muro construído na Cisjordânia era ilegal. Haia ainda pediu que a divisão fosse imediatamente retirada. Israel jamais cumpriu a determinação da Corte.

hudsonlacerda@diasporabr.com.br
Em edição histórica, Diário Oficial concorre com capas de Pelé pelo mundo

#JamilChade

Os colecionadores de capas de jornais terão muito trabalho, neste dia 30 de dezembro de 2022. Pelo mundo, artistas se empenharam para estampar no grito das manchetes a morte de um dos maiores ícones populares do planeta: #Pelé.

Em inglês, francês, árabe, russo ou chinês, o brasileiro ocupou as principais capas dos jornais, com fotos rasgadas de sua majestade. São, em qualquer critério que se estabeleça, edições históricas de imprensa. Aquelas que estarão em exposições ao lado dos atentados de 11 de setembro de 2001 ou do pouso do homem na lua.

Talvez os editores estrangeiros, orgulhosos de suas obras de arte, não saibam. Mas, no #Brasil, concorre ao título de edição histórica ou outro jornal, que nem mesmo traz uma foto de Pelé: o #DiárioOficial.

Não se trata de uma edição qualquer. Mas uma repleta de dribles e insinuações que deixariam o Rei do Futebol com inveja da qualidade da técnica usada para enganar.

Ali, podemos ler nas entrelinhas que #JairBolsonaro #planeja #fugir. Que deixa o comando de um país num vácuo inédito, que promove o último deboche da democracia e das instituições. Um escárnio.

Seus futuros assessores estarão em Miami, segundo a publicação. Trata-se de assessores que, por lei, são colocados à disposição de um #ex-presidente.

Aos bolsonaristas esperançosos de uma intervenção militar ou extraterrestre, uma publicação que deveria soar como uma traição. Resta saber se irão ler. E, se optarem por ler, se vão acreditar. E se acreditar, se vão interpretar da mesma forma que o texto diz.

Também descobrimos que, num outro ato de traição à base mais radical da extrema direita, o governo Bolsonaro revoga uma portaria de 19 de agosto de 2019. Não há qualquer referência ao conteúdo daquela decisão. Uma espécie de drible, no qual o mito, sem olhar, rola a bola para um espaço aberto do campo, permitindo o chute cruzado ao gol da Itália e a consagração total.

Mas basta buscar a referência para entender que a portaria que estava sendo revogada era a que proibia qualquer autoridade venezuelana de entrar em território brasileiro.

Claro, o documento omite qualquer referência às palavras "Venezuela" ou "Maduro", verdadeiros espantalhos usados pelo bolsonarismo durante quatro anos.

Há ainda uma referência ao comando da Marinha, e tantas outras decisões do último dia útil do ano e do mandato de Bolsonaro.

Histórico, o Diário Oficial de 30 de dezembro de 2022 entra para os anais da #democracia brasileira como um exemplo de como, usando as leis que o estado de direito garante, um governo pode trair a república. Um atestado, por escrito, da covardia.

Feliz Ano Novo.

hudsonlacerda@diasporabr.com.br

Jamil Chade: Carta para Arthur do Val: a condição feminina na guerra e na paz

05/03/2022 05h30

Senhor deputado,

Confesso que não conhecia seu nome, e nem sua denominação de guerra. Mas os áudios indigestos que vazaram com seus comentários sobre a situação na Ucrânia me obrigaram a escrever aqui algumas linhas sobre o que eu vi em campos de refugiados e filas de pessoas desesperadas para escapar da guerra e da pobreza ao longo de duas décadas.

Não estou acusando o senhor e sua comitiva do que estará exposto abaixo. Mas considero que, sem entender essa dimensão do sofrimento humano, fica impossível justificar uma viagem como a que o senhor faz para ajudar a defender um povo.

Ao longo da história, a violência sexual é uma das armas de guerra mais recorrentes para desmoralizar uma sociedade. Ela não tem religião, nem raça. Ela destrói. Demonstra o poder sobre o destino não apenas das vidas, mas também dos corpos e almas.

Percorrendo campos de refugiados em três continentes, o que sempre mais me impressionou foi a vulnerabilidade das mulheres nessa situação.

Mas, antes, vamos ser claros aqui. Não precisamos sair do Brasil para saber que as mulheres, simplesmente por serem mulheres, precisam passar a vida se explicando. Como se necessitassem de chancela ou justificativa para determinar o destino de seu corpo ou coração, se podem trabalhar ou ter tesão. Intolerável, não?

Então, o senhor pode imaginar o que isso significa em tempos de guerra, onde a lei e a moral são suspensas?

Conheci certa vez uma garota yazidi. Ela me contou como, depois de sua cidade ser tomada por islamistas, ela foi transformada em escrava sexual. Aqueles olhos verdes intensos se enchiam de lágrimas quando contava que, num calabouço, ela e as demais meninas se dividiam em dois grupos.

Aquelas que rezavam para sobreviver e aquelas que rezavam para morrer logo.

Ela também me contou que, num ato de solidariedade com as outras mulheres que viriam depois delas, foi iniciado um gesto espontâneo de escrever mensagens nas paredes daqueles quartos imundos, inclusive com dicas de como agir. Escreviam com a única cor que tinham. O vermelho do sangue de suas vaginas estupradas.

O senhor me diria: claro, isso é coisa de terrorista islâmico. Sim, sem dúvida. Mas quero lhe contar o que investigações e auditorias revelaram em um local mais próximo de nós: o Haiti.

Ali e em outros locais onde estão destacadas, as tropas de paz da ONU - repletas de moral, credibilidade e protocolos - foram acusadas de estupro e de abusos com mulheres, meninas e meninos. Alguns, em troca de comida. Num caso específico, um garoto era semanalmente estuprado por oficiais, em troca de bolachas. Há até mesmo uma categoria de crianças hoje nesses países, "os filhos da ONU".

Na Sérvia, num barracão onde eram depositados os refugiados que aguardavam para chegar até a Europa Ocidental, conheci uma mulher que não falava. Sua irmã, depois, veio me explicar que ela ficou muda depois de ter sido estuprada pelo "guia" que seus pais tinham contratado na Turquia para que elas cruzassem as fronteiras. Para pagar pelo guia, os pais venderam as únicas coisas que tinham: uma casinha e dois animais.

Em Dadaab, no Quênia, entendi toda a minha ignorância quando fui perguntar para um grupo de crianças do que elas tinham mais medo. Achei que a resposta seria: as bombas de Mogadíscio. Mas era do escuro do campo de refugiados. Quando pedi para saber o motivo, uma delas sussurrou: "não podemos nem ir ao banheiro pela noite. Um homem pode fazer coisas ruins com nosso corpo".

Anos depois, voltei a viajar para a África. Da janela do avião a hélice em que eu voava, podia ver como um garoto usava um pedaço de galho para tentar dirigir o destino de vacas e outros animais. Enquanto ele conseguia dar direção ao gado, algumas reses escapavam um pouco adiante.

Do assento em que eu estava, quase não consegui ouvir quando o piloto se virou para trás e, competindo com o barulho do motor, gritou que estávamos iniciando a aterrissagem. Jamais imaginaria que, minutos depois, era sobre aquele local de terra de onde o garoto estava retirando os animais que o avião iria pousar. O que de fato eu tinha visto era a preparação da pista de pouso.

Eu tinha viajado para um lugar a oeste da cidade de Bagamoyo, na Tanzânia, para escrever sobre o impacto da Aids numa das regiões mais pobres do planeta. Mas seria naquele local que eu descobriria, de uma maneira inusitada, a dimensão do drama de imigrantes e refugiados. Ao longo dos anos, visitei campos de refugiados na fronteira do Iraque, entre o Quênia e a Somália, em Darfur, na rota entre a Turquia e a Europa. Vi milhares de pessoas sem destino. Mas, nas proximidades de Bagamoyo, aquela história era diferente. Oficialmente, não havia uma guerra. Não havia um acampamento de refugiados. Mas eu logo descobriria que nem por isso o desespero deixava de estar presente naquela população.

Eu fazia uma visita a um hospital e esperava para falar com o diretor. Por falta de médicos, ele fora chamado para fazer um parto. Sabia que aquilo significava que eu passaria horas ali, à espera de minha entrevista. Restava fazer o que eu mais gostava nessas viagens: descobrir quem estava ali, falar com as pessoas, perambular pelo local, ler os cartazes e simplesmente observar. No portão do centro de atendimento, centenas de mulheres com seus véus coloridos aguardavam de forma paciente. Tentavam afastar as moscas, num calor intenso, enquanto o choro de crianças rompia os muros descascados daquela entrada de um galpão transformado em sala de espera.

Ao caminhar para uma das alas, fui barrado. Os enfermeiros me pediram que não entrasse no local. Quando perguntei qual era a especialidade daquela área, disseram que não podiam revelar. Em partes da África, o preconceito e o estigma em relação aos pacientes de Aids obrigam os hospitais a não indicar nem em suas paredes o nome da doença. Decidi sair do prédio em ruínas e, num dos pátios do hospital, vi duas garotas brincando.

Não tinham mais de 10 anos de idade. E o único momento em que olharam para o chão, sem resposta, foi quando perguntei o que faziam ali. Mas a curiosidade delas em saber o que um rapaz branco, com um bloco de notas na mão e uma câmera fotográfica, fazia lá era maior que sua vontade de contar histórias. Desisti de seguir com minhas perguntas. Expliquei que era jornalista brasileiro e, para dizer meu nome, mostrei um cartão de visita, que acabou ficando com elas.

Quando iam responder à minha pergunta sobre os seus nomes, nossa conversa foi interrompida por uma senhora que, da porta do hospital, me avisava que o diretor já estava à disposição para a entrevista. Deixei aquelas crianças depois de menos de cinco minutos de conversa. Já caminhando, virei e disse uma das poucas expressões que tinha aprendido em suaíli: kwaheri - "adeus". Ganhei em troca dois enormes sorrisos.

Terminada a entrevista com o diretor do hospital, confesso que nem sequer notei se as meninas continuavam ou não no pátio. Estava ainda sob o choque de um pedido do gerente da clínica, que, ao terminar de me explicar o que faziam, me perguntou se eu não poderia deixar para eles qualquer comprimido que tivesse na mala. Qualquer um. Até mesmo se o prazo de validade já tivesse expirado.

Alguns meses depois, já na Suíça, abri minha caixa de correio de forma despretensiosa ao chegar em casa. Num envelope surrado e escrito à mão, chegava uma carta de Bagamoyo.

Pensei comigo: deve ser um erro e a carta deve ter sido colocada na minha caixa por engano. Eu não conheço ninguém em Bagamoyo. Mas o envelope deixava muito claro: era para Jamil Chade.

Antes mesmo de entrar em casa, deixei minha sacola no chão e abri o envelope. Uma vez mais, meu nome estava no papel, com uma letra visivelmente infantil. Eu continuava sem entender. Até que comecei a ler. No texto, em inglês, quem escrevia explicava que tinha me conhecido diante do hospital e que tinha meu endereço em Genebra por conta de um cartão que eu lhe havia deixado.

Como num sonho, as imagens daquelas garotas imediatamente apareceram em minha mente. Mas o conteúdo daquela carta era um verdadeiro pesadelo. A garota me escrevia com um apelo comovedor. "Por favor, case-se comigo e me tire daqui. Prometo que vou cuidar de você, limpar sua casa e sou muito boa cozinheira." A carta contava que sua mãe havia morrido de Aids - naquele mesmo hospital - e que seu pai também estava morto.

Cada um dos oito filhos fora buscar formas de sobreviver e ela era a última da família a ter permanecido na empobrecida cidade. "Preciso sair daqui", escrevia a garota. A cada tantas frases, uma promessa se repetia: "Eu vou te amar."

Uma observação no final parecia mais um atestado de morte: "Com as últimas moedas que eu tinha, comprei este envelope, este papel e este selo. Você é minha última esperança."

Deputado, talvez o senhor classificaria essa pessoa no grupo de "meninas fáceis". Eu, porém, chorei de desespero e de impotência diante daquele pedido de resgate.

Eu e o senhor- homens brancos - nascemos como a classe mais privilegiada do planeta. Eu e o senhor não tivemos de fazer nada para adquirir esses privilégios. Existimos.

É nossa obrigação, portanto, desmontar o processo de profunda desumanização de uma guerra e da miséria. Cada um com suas armas.

Não sei qual será o destino que a Assembleia Legislativa em São Paulo, seu partido e seus eleitores darão ao senhor. Qualquer que seja ele, só espero que esse episódio revoltante sirva para que haja alguma insurreição de consciências sobre a condição feminina. Na guerra e na paz.

Grato pela atenção

Jamil

#JamilChade #UN #ONU #guerra #war #mulheres #women #crianças #children #paz #peace #abuso #violência #MBL #Brasil #política

hudsonlacerda@diasporabr.com.br

O óbvio precisa ser dito: o Brasil vive um detalhado plano de destruição

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2021/10/22/o-obvio-precisa-ser-dito-o-brasil-vive-um-detalhado-plano-de-destruicao.htm

#JamilChade

22/10/2021 17h13

Ainda nos primeiros meses de seu governo, Jair Bolsonaro se levantou em um jantar oferecido em Washington e fez um discurso de improviso. Mas apenas a fala era intempestiva. O plano havia sido cuidadosamente planejado. O presidente, numa explosão de sinceridade, avisaria aos presentes: vamos ter de destruir o que existe.

E assim foi feito, em praticamente todas as áreas da administração pública. O desmonte ocorreu na Funai, no Ibama, nos conselhos sociais, nos canais de participação da sociedade, nos programas de combate à fome, na diplomacia, na educação, na economia, na cultura, na ciência, pesquisas e tantos outros setores.

Não foi incompetência, como alguns mais apressados poderiam anunciar. Foi um plano, com metodologia, estratégia e objetivos. O problema: enquanto a destruição foi realizada com a meta de colocar no lugar uma nova ideologia, sob o controle de um determinado grupo, quem pagou caro foi a sociedade.

O Brasil mostrou ao mundo que nenhum avanço social, democrático ou econômico tem um percurso inevitável. Em quase três anos, a "eficiência" na destruição fez a fome voltar, a pobreza explodir, os ganhos sociais serem desfeitos e a economia desabar. A mentira matou e a credibilidade do país no exterior foi sepultada. Mas os ricos ficaram mais ricos.

Num encontro informal nesta sexta-feira com banqueiros em Genebra e investidores internacionais, até mesmo aqueles que fizeram apostas em Bolsonaro - sob o guarda-chuva de uma promessa de um ultraliberalismo cego - falavam abertamente: ninguém arrisca mais dizer o que ocorrerá com o Brasil.

Caminhando para o fim de um terceiro ano de uma administração que entrará para a história como a mais perversa da era democrática do país, chegou o momento de o óbvio ser dito com todas as palavras: o projeto de destruição prometido ocorre a olhos nus, com um êxito espantoso. O resultado: uma sociedade desgovernada e exausta.

Sim, existe um plano de poder, organizado para manter privilégios de alguns poucos, com os aplausos de donos de contas em paraísos fiscais e dos jogadores do cassino chamado Brasil.

Para quem não está nesse grupo, porém, cabe a luta por um horizonte cada vez mais turvo, mais distante e mais traiçoeiro.

Enquanto isso, na base de um país cujas elites nunca aceitaram o conceito de comunidade de destino, um exército de famintos disputa sua dignidade com ratos sem escrúpulos. Inclusive na Esplanada.

#Brasil #política #destruição

hudsonlacerda@diasporabr.com.br

#JamilChade

Obscenidade de ministros é retrato fiel do governo Bolsonaro

21/09/2021 05h19

Visivelmente descontrolado, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, fez gestos obscenos a manifestantes que protestavam contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em Nova Iorque na noite de segunda-feira. Ao seu lado, o "moderado" chanceler Carlos França fazia uma "arminha" com as mãos contra os brasileiros, tão indecente quanto seu colega.

Respostas de um governo sem respostas, nem para a morte, nem para pobreza, nem para a fome, o desemprego, o desmatamento, a corrupção e nem para violência.

Um dedo do meio de um ministro que, no fundo, é o slogan de um governo decadente. Em pouco mais de dois anos e meio, o Planalto redefiniu a obscenidade e o gesto às vésperas da maior reunião diplomática desde o início da pandemia foi apenas a constatação da marca mais profunda da alma de um governo que profanou a república e o estado de direito.

Mas obsceno não é apenas o gesto de Queiroga pelas ruas de uma das principais cidades do mundo. Obsceno é usar a bandeira e o patriotismo oco como instrumentos de manipulação, enquanto o estado é sequestrado por interesses privados e familiares.

Obsceno é dizer que, em nome de Deus, crimes são autorizados. Obsceno é usar a religião como arma de poder, inclusive sobre o corpo da mulher. Obsceno é ensinar uma criança a fazer o gesto da morte, a homenagear torturadores, fazer apologia a ditadores e sucatear a cultura.

Obsceno é incentivar milícias (digitais e de carne e osso) organizadas para destruir reputações e vidas. Obsceno é dizer que não existe racismo.

Obsceno é o incentivo dado ao desmatamento que coloca nosso próprio futuro em risco. Obsceno é o apoio às atrocidades contra indígenas e ativistas no campo.

Obsceno é o uso da mentira como política de estado e ameaçar jornalistas, enquanto gabinetes do ódio são instaurados na total impunidade.

Obsceno é insultar líderes estrangeiros, queimar navios nos quais viriam a cura, mentir diante do mundo, zombar do outro, aplaudir a invasão ao Capitólio.

Obsceno é gargalhar dos mortos, minimizar a dor, não reconhecer o poder de um vírus, menosprezar a ciência e não mobilizar todas as forças para combater o inimigo. Obsceno é o número de quase 600 mil mortos e milhões de outras vítimas do desconsolo.

Obsceno é ameaçar a democracia todos os dias, atacar minorias e a Justiça. Obsceno é corromper poderes, grandes e pequenos, fechar o espaço cívico, impedir o diálogo com a sociedade civil e desmontar de forma deliberada uma nação.

Ao fazer os gestos que ficarão nos anais das participações do Brasil na ONU, Queiroga talvez tenha optado por ignorar que, diante de todas essas obscenidades, os insultados terão seu direito de resposta. Mais cedo ou mais tarde, a fraude que ocupa o poder neste momento terá encontro marcado com a história, com as urnas e, certamente, com a Justiça.


#Brasil #obsceno