Jamil Chade, Colunista do UOL, em Genebra
02/03/2024 18h45
No dicionário da #diplomacia mundial, a definição de #hipocrisia acaba de ganhar um novo significado: #vetar por três vezes resoluções no Conselho de Segurança pedindo um cessar-fogo e, depois, #entregar por via aérea, ajuda humanitária para aqueles mesmos que estão sendo bombardeados.
Neste fim de semana, o governo de #Joe #Biden decidiu que a melhor forma de ajudar aos palestinos era soltar pacotes de ajuda pelo céu. Agarra quem #conseguir. Ou ainda tiver #forças para isso.
O envio ocorre depois de a Casa Branca impedir na #ONU que propostas concretas sejam aprovadas para pressionar por um cessar-fogo, enquanto despejam #bilhões de dólares em #armas aos #israelenses.
Quando questionados sobre o veto, os diplomatas americanos se apressam a dizer que a diplomacia deve ocorrer de forma sigilosa, para permitir que o acordo seja atingido. Eles vêm repetindo isso há meses.
Nos bastidores, o recado dos EUA é claro: #não #envolva a #ONU nisso.
Num mundo maniqueísta e deliberadamente perverso, denunciar o sofrimento de um povo te joga imediatamente ao lado oposto do debate. Portanto, antes que alguém chegue a conclusões equivocadas, vamos deixar claro: o Hamas cometeu um atentado terrorista e precisará pagar por cada uma das vítimas inocentes. Não há debate sobre isso.
Mas a realidade é que Gaza se transformou num dramático espelho da relação de força no mundo. Uma sombra da dimensão vazia dos discursos políticos. Ela é, acima de tudo, a palavra dá uma nova definição para a hipocrisia. Seu eco pelos corredores cada vez mais esvaziados da ONU assombrará aqueles que, um dia, tentarão resgatar a credibilidade da organização e de um Ocidente míope.
Como diria Noam Chomsky: para os poderosos, crime é o que os outros cometem.