#ideologia

hudsonlacerda@diasporabr.com.br

Lula e a Inteligência Artificial

#Lula defende #InteligênciaArtificial genuinamente #nacional, mas #Brasil segue #entregando #dados para aperfeiçoamento de IAs de empresas norte-americanas

#SérgioAmadeu

Opera Mundi https://operamundi.uol.com.br/opiniao/lula-e-a-inteligencia-artificial/
São Paulo

17 de março de 2024,
às 13:45

Poucas pessoas têm uma #intuição tão aguçada e profunda sobre as questões cruciais do seu tempo como o presidente #Lula. Em uma recente reunião do Conselho Nacional de #Ciência e #Tecnologia, o presidente brasileiro declarou de modo contundente querer “uma #IA (Inteligência Artificial) genuinamente #guarani” ou “ #yanomami ”. Cobrou dos pesquisadores que fizessem algo “nosso”.

É impressionante que Lula tenha dito uma frase tão certeira nesse momento crucial do desenvolvimento das tecnologias chamadas de “inteligentes”. Com sua sentença, Lula deixou evidente que a IA não é neutra, que ela porta as cosmovisões de uma #sociedade, que é desenvolvida conforme os traços culturais de uma #população. A IA atual é concebida e elaborada a partir de um universo cosmotécnico que não é o nosso, nem o dos yanomamis. O filósofo honconguês Yuk Hui parece ter conversado antes com Lula. Mas, sei que não.

Lula também reforçou o #pensamento de várias pesquisadoras, como a #matemática Cathy O’Neil, que nos alerta que as tecnologias digitais, apesar de sua reputação de #imparcialidade, refletem #objetivos político-econômicos e ideológicos. O’Neil escreveu que “os modelos (inclusive de IA) são #opiniões embutidas em matemática”. Cheguei a considerar que o presidente poderia ter lido e se inspirado na ideia de que as tecnologias informacionais expressam aquilo que Richard Barbrook e Andy Cameron nomearam como a “Ideologia Californiana” no título de seu livro de 1995.

O presidente também acertou em cheio ao cobrar dos cientistas brasileiros uma abordagem original da IA. Talvez alguém tenha alertado Lula de que aquilo que o mercado chama de “inteligência artificial” são na realidade sistemas algoritmos que extraem padrões de variadas e gigantescas base de dados para criar modelos que serão acessados a partir de interfaces digitais. A IA realmente existente é a dos sistemas automatizados que utilizam muitos dados e cada vez mais poder computacional, ou seja, infraestruturas com milhares de servidores. Por isso, Lula esboçou uma reclamação ao falar que temos tanta gente inteligente no Brasil, como se quisesse advertir alguns desavisados de que a IA realmente existente está muito longe de superar nossa inteligência orgânica.

Há um texto muito importante para mostrar que aquilo que naturalizamos nas tecnologias, em geral, são perspectivas e ideários que guardam cosmovisões. Um grupo internacional de #tecnólogos #indígenas, em 2021, utilizando a metodologia chamada design centrado no território – criada pelos povos indígenas da #Austrália – buscou criar protocolos de um sistema de parentesco para desenvolver uma estrutura algorítmica com base na chamada #computação #genética. Os algoritmos criados sob a orientação dos anciões receberam uma elevada pontuação em #diversidade e #complexidade, mas fracassavam em velocidade e eficiência. Esse relato presente no livro Out of the Black Box: Indigenous Protocols for AI (Saindo da caixa preta: protocolos indígenas para a AI, em tradução literal) evidencia que “fazer mais com menos” nem sempre é algo prioritário para uma #cultura. A velocidade algorítmica não interessava aos aborígenes. Interessa ao #capital. O acúmulo de dados é vital para os paradigmas dominantes na IA realmente existente.

Não é por menos que os Estados Unidos detém mais da metade dos #Data Centers do planeta. O insumo essencial da IA nas abordagens atualmente dominantes são os dados. Mas, eles não são como o petróleo, naturais; não brotam do chão. Dados são criados por #humanos, #empresas, #instituições, #indivíduos ou por #máquinas inventadas por humanos. As grandes empresas de tecnologia, as Big Techs, querem que acreditemos na sua #ideologia sobre dados para continuar a extraí-los como algo disponível na natureza. Por isso, mais uma vez Lula acertou ao pedir que os cientistas daqui façam algo. Para isso, teremos que estancar a coleta de dados absurda que é feita em nosso país para alimentar e treinar os sistemas algoritmos dos Estados Unidos.

O que Lula, apesar de sua intuição, não tratou, foi da colossal transferência de dados públicos que fazemos para as Big Techs. Também não se pronunciou sobre o fato de que o seu governo continua treinando os algoritmos da #IBM com dados dos servidores públicos, civis e militares, quando esses acessam o serviço de chat do #SouGov. Essa derrama de dados começou com Bolsonaro e continua no atual governo. Lula certamente não leu os Termos de Uso do SouGov. Nele, está justificado o envio de dados dos brasileiros para os Estados Unidos: “… tal armazenamento tem o objetivo de prover o aprendizado de máquina da ferramenta de chat denominada ‘Watson’, onde as interações dos usuários no chat são utilizadas para ‘aprendizado’ pelo computador que envia as respostas automáticas quando o usuário está sendo atendido por meio do chat do serviço SouGov.”

Tão grave quanto a entrega de dados dos servidores públicos brasileiros para um sistema que opera em solo norte-americano, longe da nossa jurisdição, é o fato de que mais de 70% das universidades brasileiras entregaram seus e-mails e listas de discussão, bem como seus repositórios para o armazenamento de arquivos para o Google e para a Microsoft. Lula poderia sugerir que o #MEC fizesse um consórcio com as universidades para construir data centers que mantenham nossos dados sobre nossa governança, servindo ao treinamento de sistemas algorítmicos desenvolvidos pela nossa inteligência coletiva. Seria um primeiro grande passo para proteger os nossos dados e desenvolver nossa IA.

(*) Sérgio Amadeu da Silveira é sociólogo e Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. É professor-adjunto da Universidade Federal do ABC (UFABC). Foi presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil.

hudsonlacerda@diasporabr.com.br

Quais são os 7 objetivos ocultos de Israel?

Thiago Ávila é internacionalista, comunicador e socioambientalista

"Por que não interrompem esse genocídio?", questiona Thiago Ávila

3 de dezembro de 2023, 18:13 h

Após 7 dias de pausa humanitária para a troca de reféns e prisioneiros entre as partes muita gente está se perguntando por que foram retomados os bombardeios e não houve um cessar-fogo permanente em #Gaza. Com tamanha repercussão negativa para Israel, levando a marchas massivas no mundo inteiro, críticas de governos, derrotas diplomáticas, muita gente se pergunta se o governo de #Netanyahu não percebe o horror e a catástrofe que estão cometendo, se não percebem que o mundo está deixando de acreditar na retórica de nação perseguida e compreendendo que se trata de um #genocídio de um Estado guiado por uma ideologia racista e supremacista, que é o #sionismo. E a resposta é: sim, o governo percebe tudo isso.

De fato, o governo israelense tem tentado arduamente reverter os danos em relações públicas que estão sofrendo nesse momento (e para isso a propaganda de guerra e o lobby sionista cumprem um papel fundamental). Porém as decisões sobre as ações do Estado de #Israel não são guiadas por popularidade, mas sim por esses 7 grandes objetivos estratégicos, abaixo.

Quando já tem muito tempo de um acontecimento (à distância, com uma janela histórica), é mais fácil de perceber as coisas. Quando a gente está vivendo no calor dos acontecimentos, fica tudo muito confuso, pois ficamos mais suscetíveis à propaganda de guerra e às vezes não conseguimos perceber coisas que são evidentes. Nem os Estados Unidos em 2003 invadiu o Iraque para “salvar a democracia” e para impedir as tais “armas de destruição em massa”, nem Israel está cometendo um genocídio contra o povo Palestino para “acabar com o Hamas” ou para “resgatar reféns”. Quem pesquisa geopolítica, acompanha as movimentações sociais, militares, comerciais, estratégicas no mundo, entende que os objetivos são outros. E, no caso de Israel, existem 7 objetivos principais.

OBJETIVO 1 – TOMADA E ANEXAÇÃO DE TERRITÓRIO

O primeiro e o mais evidente deles é a conquista e anexação de territórios. Seria meio óbvio falar isso para qualquer pessoa que estuda a história, que acompanha as resoluções da #ONU e que não foi abduzida pelas mentiras sionistas, mas em tempos de bloqueio midiático é sempre importante ressaltar o principal objetivo sionista.

Vale também, de início, lembrar aqui a separação importante entre o #judaísmo, que é uma expressão #religiosa e #étnica de um povo que merece ter seus direitos à vida, à autorrealização e à dignidade, sem sofrer preconceitos ou perseguições de qualquer tipo, com o #sionismo, que é uma #ideologia #racista e #supremacista #colonial que utiliza indevidamente a fé judaica, que deturpa a mensagem de amor e paz do judaísmo, como cobertura para seu projeto de poder (e que felizmente não representa a maioria do povo judeu, ao contrário: persegue, ataca e prende judeus que lutam contra o genocídio hoje).

O sionismo tem como projeto a construção de uma Grande Israel, que alega limites bíblicos do território do “Nilo até o Eufrates”. Se concretizado, esse projeto envolveria toda a região da #Palestina histórica, anexando a #Cisjordânia (chamada por eles de Judeia e Samaria) e #Gaza, além de partes do Líbano, Síria, Jordânia, Egito e até do Iraque.

Esse projeto colonizador e expansionista vem sendo executado desde o início do século passado, com migrações subsidiadas pela alta burguesia eurojudaica, a compra de terras e expulsão de comunidades originárias. Ele avança em 1947, quando sionistas conseguiram arrancar da ONU uma resolução que tomou 56,5% do território palestino e cedeu para o futuro Estado de Israel. Mas como ainda era insuficiente, os sionistas promovem a Nakba, a grande catástrofe, e de 1947 a 1949 expulsaram mais de 750 mil palestinos de suas casas, queimaram e destruíram mais de 520 vilas e, no final desse processo, tomaram mais de 78% do território palestino. No entanto, mesmo 78% ainda era insuficiente, então, em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel tomou e ocupou militarmente 100% do território palestino (e nunca mais desocupou ou renunciou ao controle direto ou indireto de Cisjordânia e Gaza). Além disso, o Estado sionista tomou uma parte da fronteira sul do Líbano (contestada até hoje), tomou da Síria e anexou as Colinas de Golã e tomou a península do Sinai do Egito (eventualmente devolvendo-a por pressão internacional).

Em todas as guerras de conquista que Israel venceu foi anexado território. Dessa vez, no genocídio que estão cometendo contra o povo palestino, áreas enormes da Cisjordânia ocupada estão sendo tomadas (sendo que já existe hoje mais de 700 mil colonos sionistas lá), terras agricultáveis, reservas de água, vilarejos, casas, estão sendo tomadas enquanto o povo é assassinado por soldados ou por colonos, que receberam mais de 10 mil fuzis do governo israelense depois do dia 7 de outubro. Onde não estão tomando, estão destruindo: ruas, infraestrutura, mesquitas, escolas, campos de refugiados, estátuas e todo tipo de coisa. A ideia é, como no Nakba, tomar e anexar todo o território da Cisjordânia, matando quem resista, empurrando as pessoas para a Jordânia e submetendo quem acabe permanecendo à terrível #ditadura #israelense, caracterizada pela #ONU, pela #AnistiaInternacional e pela #HumanRightsWatch como um Estado de colonização e #apartheid.

Em Gaza os planos são ainda mais cruéis, envolvendo a expulsão total das mais de 2 milhões e 200 mil pessoas que vivem lá (sendo que 700 mil delas já eram refugiadas expulsas por Israel de outras regiões e agora 1 milhão e 800 mil já perderam suas casas novamente e estão deslocadas). O objetivo é que as pessoas que sobrevivam à invasão e aos terríveis bombardeios (que ultrapassam o potencial explosivo de 2 bombas de Hiroshima) sejam expulsas para o Egito, na Península do Sinai e, a depender de negociações, para outros países árabes que aceitem receber palestinos em troca de “ajuda humanitária” estadunidense e europeia. Assim Israel, se bem-sucedido nesse plano, completaria uma primeira fase do seu projeto da Grande Israel, anexando totalmente a Palestina histórica e, como mostrava o mapa apresentado por Netanyahu na ONU meses antes do dia 7 de outubro, apagando a Palestina do mapa.

Tudo isso envolve diversas violações do Direito Internacional, diversos crimes de guerra e crimes contra a humanidade, mas infelizmente é só o começo, pois Israel possui outros 6 objetivos importantes que deseja conquistar. Vamos para o próximo.

OBJETIVO 2 – GUERRA DEMOGRÁFICA

Esse termo pode parecer estranho, mas é utilizado frequentemente pelo próprio governo israelense pra descrever a batalha política, militar, econômica, judicial e cultural para construir uma maioria judaica naquela região. Eles tentam implementar isso desde o início do século passado, mas falham na ideia de construir essa maioria na região porque, imaginem só, já existe um povo originário ali. Os instrumentos usados para tentar construir essa maioria artificial são o que o direito internacional qualifica como limpeza étnica e dura mais de 75 anos, atingindo todos os palestinos: sejam os quase 2 milhões que estão nos territórios ocupados em 1948 (e que são chamados pelo governo de Israel de “árabes israelenses”), sejam os quase 3 milhões que estão na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental (ocupados desde 1967), sejam os mais de 2 milhões de Gaza (ocupados em 1967 e bloqueados totalmente desde 2007) e até os milhões de palestinos em campos de refugiados no mundo ou integrados a outros países na diáspora (sendo violados de seu direito de retorno que foi assegurado pela ONU em 1948 e até hoje não cumprido por Israel). A mera existência dessas pessoas é tratada como ameaça para o Estado sionista de Israel e é alvo de política de “segurança nacional”.

Não é exagero: é política de Estado diminuir a população palestina naquela região. As expulsões, assassinatos, o estrangulamento da vida, não são acidentais. Israel comemora quando a população Palestina diminui. Compreender a guerra demográfica pode ajudar a entender porque soldados fazem festa celebrando as mortes e o #genocídio em Gaza. Para o governo de Israel, as mortes de milhares de crianças em Gaza não são “efeito colateral”, são um #bônus na guerra demográfica para construir uma maioria judaica ali. E isso é tão escancarado, que já políticos em Israel já disseram que tinham que intensificar as políticas de estrangulamento (apartheid) pois nem sempre eles teriam a “SORTE de ter uma guerra”.

Portanto não deve haver ilusões: é parte dos principais objetivos de Israel com o genocídio reduzir ao máximo a população palestina. É parte, não acidente, assassinar o máximo de civis possível aproveitando que nesse momento é visto como “guerra”, pois, apesar de tudo que já aconteceu no primeiro genocídio transmitido ao vivo da história, o lobby e a propaganda de guerra ainda conseguem que algumas pessoas acreditem em “direito de defesa”, ou que “é contra o Hamas”, ou que são “alvos militares” as casas, os hospitais e tudo que foi destruído em Gaza nesses 57 dias. Quem repete essas coisas não apenas está sujando suas mãos de sangue, mas está deliberadamente apoiando a morte do máximo de civis que Israel conseguir nesse momento. E o pior é que ainda existem outros objetivos também relevantes ao Estado sionista de Israel.

OBJETIVO 3 – EXPLORAÇÃO DE RECURSOS

Eduardo Galeano, uruguaio que escreveu “As veias abertas da América Latina”, tem a brilhante frase de que “nenhuma guerra tem a honestidade de dizer: eu mato para roubar”. E é a mais pura verdade no caso dos crimes cometidos por Israel contra o povo palestino.

Foi descoberto na costa do Norte de Gaza no Mediterrâneo reservas de gás que podem chegar a centenas de bilhões de dólares (talvez até meio trilhão de dólares) e petróleo avaliado em mais de 70 bilhões de dólares. Essas reservas impactariam consideravelmente a situação geopolítica na região se fossem exploradas pelo povo palestino de forma soberana em parceria, por exemplo, com a Gazprom russa, algo tratado como inadmissível por Israel. Para eles, que já se apropriam dos minérios, da fertilidade do solo, da produção em todos os territórios da Palestina histórica, é muito melhor tomarem para si essas reservas de gás e petróleo, destruindo e anexando o norte de Gaza ao Estado de Israel como “troféu de guerra”.

Está longe de ser uma “teoria da conspiração”: no dia 30 de outubro de 2023, com 23 dias de bombardeio e destruição no norte de Gaza nessa etapa de escalada da violência, o governo de Israel concedeu 12 licenças para 6 empresas de #óleo e #gás explorarem onde? A costa mediterrânea no norte de Gaza. Entre essas empresas está a British Petroleum, motivo pelo qual cidadãos britânicos estão fazendo barricadas na porta dessa empresa há dias para denunciar a participação dela no genocídio contra o povo palestino. Hoje não existe nenhuma dúvida de que a exploração do gás da costa de Gaza é também um dos motivos principais de Israel com o genocídio e que, obviamente, representa inúmeras violações do direito internacional. Infelizmente, ainda tem outros objetivos.

OBJETIVO 4 – CONSTRUÇÃO DO CANAL DE BEN GURION (IMEC)

Israel já tentou muitas vezes tomar a península do Sinai no Egito e o Canal de Suez. Em 1956, por exemplo, o exército sionista foi obrigado a recuar dessa região por uma missão de paz da ONU composta por vários países, inclusive com tropas brasileiras (Carlos #Lamarca, um histórico lutador da liberdade no Brasil, fez parte dessa missão). O Canal de Suez, além de gerar bilhões de dólares em receita para o Egito todos os anos, é também um recurso estratégico de controle do comércio internacional que passa por ali, como a maior parte do petróleo extraído em todo o Oriente Médio.

Os planos de Israel, já bem antigos e bem documentados, envolvem construir um novo canal na outra ponta da península do Sinai, entrando pelo golfo de Aqaba pelo sul de Israel e chegando ao Mar Mediterrâneo imaginem por onde? Por Gaza. Imagine que bilhões de dólares todos os anos e um controle estratégico do comércio internacional que Israel planeja obter passam por ter o controle total da costa para o Mediterrâneo região e, portanto, um território palestino ali inviabiliza totalmente esse projeto. Por isso a remoção da população de Gaza cumpre mais um objetivo estratégico para Israel. E ainda tem outros objetivos.

OBJETIVO 5 – LUCRO E DESENVOLVIMENTO DO COMPLEXO INDUSTRIAL-MILITAR

Quem sobrevive de produzir e vender armas precisa também produzir guerras. Isso não poderia ser mais verdade no caso de Israel. Não apenas é extremamente lucrativo para o seu complexo industrial-militar e grupos como a Elbit Systems, que está vivenciando um crescimento astronômico de seus lucros nesse período, como Israel é premiado economicamente por essas agressões pelo imperialismo estadunidense. Sim, por ter escalado o genocídio contra o povo palestino depois do 7 de outubro Israel foi premiado com 14 bilhões de dólares de “ajuda militar incondicional” dos Estados Unidos, que todos os anos já destina bilhões de dólares nesse tipo de ajuda. Então escalar o genocídio traz mais recursos dos Estados Unidos, da União Europeia, desde que eles consigam fazer a propaganda e dizer que estão sob ameaça dos árabes muçulmanos violentos, terroristas, que querem cometer um novo holocausto contra o povo judeu. Se a propaganda for eficaz e se os povos desses países não impedirem, rios de dinheiro vão fluir para Israel, assim como eles fazem há quase dois anos com a Ucrânia.

É uma contradição imensa: não apenas Israel não está sendo condenado, mas é recompensando pelos crimes de genocídio, limpeza étnica, colonização e apartheid que pratica há décadas contra o povo palestino, não está sendo condenado pelos crimes de guerra que tem cometido, de punição coletiva, de deslocamento forçado de 1,8 milhões de pessoas, de usar a fome e a sede como armas de guerra, de tornar alvos militares hospitais, escolas, refúgios da ONU, de terem assassinado 108 trabalhadores da ONU, mais de 80 jornalistas, mais de 200 trabalhadores da saúde, quase 8 mil crianças, de usar armas proibidas como fósforo branco e armas experimentais que causam grande sofrimento civil (como mísseis com lâminas) e tantos outros crimes de guerra. O genocídio de agora é lucro para um setor estratégico da economia de Israel e é investimento estrangeiro no país, alguns como presente (como o dos Estados Unidos), outros como investimento no complexo industrial-militar. É a recompensa por executar a política imperialista do Norte Global. E ainda tem outros objetivos que a gente precisa considerar.

OBJETIVO 6 – SOBREVIDA À HEGEMONIA ESTADUNIDENSE E SIONISTA

O mundo no qual vivemos passa hoje por um período de grandes transformações. Se ao final da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos emergiram como a maior potência do mundo (tendo como adversário por algumas décadas a União Soviética, mas desde a década de 90 exercendo sua hegemonia sem contestação), hoje é possível dizer que essa hegemonia está diminuindo e sendo contestada.

O potencial militar é contestado em várias partes do mundo, seja na guerra da OTAN na Ucrânia (que estão perdendo para a Rússia), seja nas lutas de emancipação anticoloniais em África, com Niger, Burkina Faso e Mali realizando uma aliança militar e impedindo uma invasão imperialista ao Niger 4 meses atrás, seja nas aventuras estadunidenses no Oriente Médio, que estão sendo gradativamente derrotadas uma a uma. No campo econômico e comercial, existe um processo de integração asiática, africana e latino-americana que tem como os BRICS11 uma de suas expressões, assim como as novas Rotas da Seda chinesas e que colocam em cheque não apenas a dolarização da economia e do comércio mundial mas a própria hegemonia econômica dos Estados Unidos. No “soft power”, no terreno diplomático os Estados Unidos enfrentam cada dia mais derrotas, tendo que usar seu poder de veto para impedir derrotas ainda maiores no Conselho de Segurança da ONU. No terreno cultural, a propaganda imperialista, que já foi tão forte e incontestável com seus filmes, seus noticiários, sua industrial cultural, hoje é visto com cada vez mais desconfiança pelos povos do mundo e por seu próprio povo.

Considerando tudo isso é possível dizer que a hegemonia estadunidense está em curva decadente, apesar de ainda ter muita força e de que qualquer decadência de um grande império envolva um processo lento e gradativo. E Estados Unidos e seus aliados estratégicos agem muito ativamente para tentar reverter essa decadência. Entre essas ações está a tentativa de manter a hegemonia comercial de setores estratégicos, como a energia. A guerra da OTAN contra a Rússia na Ucrânia cumpre esse papel, bloqueando a Rússia do comércio com a Europa, explodindo o gasoduto Nordstream2 para consolidar esse bloqueio da venda de gás para a Europa e consolidar a compra do gás estadunidense para lá (muito mais caro que o gás russo).

Também é parte do esforço estadunidense a cooptação e mobilização de países do Sul Global. O Canal de Ben Gurion de Israel, que chegaria ao Mediterrâneo na costa de Gaza, todas as tentativas de cooptação ao Egito, Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes, Índia e outros, tem a ver com a construção de um corredor comercial para disputar com as novas rotas da seda chinesa. É o Israel Middle East Corridor (IMEC), a grande esperança comercial nesse momento de reverter a decadência hegemônica dos Estados Unidos. O esforço pela manutenção de hegemonia e a construção de um “novo século americano” não permite ao imperialismo qualquer compaixão ou hesitação no genocídio contra o povo palestino, pois é hoje, tanto para Israel como para os Estados Unidos, parte de um projeto geoestratégico decisivo para o futuro desses países em seus projetos de dominação. E tudo isso parece muita coisa, mas ainda tem mais.

OBJETIVO 7 – SOBREVIDA A BENJAMIN NETANYAHU

Até então, todos os 6 objetivos principais de Israel mencionados eram consensuais no governo e na política sionista de Estado. Esse é o único que não é consensual, ou seja, não existe acordo político em torno dele no Estado de Israel, mas é uma estratégia vigente e decisiva do governo atual para se manter no poder.

Benjamin Netanyahu é o líder do maior partido israelense, o Likud, formado nas bases dos movimentos terroristas sionistas (e se essa informação te surpreendeu, vale a pena consultar as referências ao final com informações sobre a história da Palestina e Israel). Conhecido como Bibi, a maior liderança sionista se tornou primeiro-ministro de Israel pela primeira vez em 1996 e exerce esse cargo de forma não contínua por 19 anos (com o constrangedor silêncio da mídia ocidental para seu aliado há tantos anos no poder). É uma figura de bastante poder e com muita habilidade política, porém Netanyahu tem tido muitos problemas para conseguir construir uma coalizão e se manter no poder.

Hoje, segundo pesquisas recentes em Israel, menos de 4% da população acredita no que o primeiro-ministro diz e mais de 70% das pessoas acreditam que Netanyahu teve responsabilidade ou omissão nos ataques sofridos no dia 7 de outubro (as evidências já comprovam que ele sabia antecipadamente e não fez nada). Ele está lidando com inúmeras denúncias de corrupção, diversas acusações de crime internacional, inclusive crimes de guerra a um ponto no qual muitos analistas já tratam como uma certeza de que Netanyahu será derrubado agora ou em breve. A única chance dele evitar ser derrubado e evitar a prisão em punição por seus crimes é mantendo e escalando o genocídio, se possível transformando em uma grande guerra com países vizinhos e em escala global.

Essa é uma receita antiga usada em vários momentos da história que governantes em crise, buscando a reeleição ou se manter no poder: escalam guerras contando com o sentimento de comoção na sociedade para conseguirem um voto de confiança de uma parte da população, diminuindo críticas e ataques de outra parte e justificando instrumentos de exceção para perseguição de vozes dissonantes em período crítico.

Portanto, a presença de Netanyahu no governo é a certeza de que Israel não apenas não vai parar, mas vai fazer tudo que estiver ao seu alcance para escalar o genocídio em uma grande guerra. Desde o dia 7 de outubro, Israel intensificou os ataques na Cisjordânia (longe de Gaza e do Hamas), já matou centenas de pessoas e prendeu milhares. Buscando a escalada, as forças militares de Israel bombardearam praticamente todos os dias o Líbano buscando cavar uma resposta que justifique a guerra alegando que estão sendo “atacados pelos terroristas do Hezbollah”. Bombardeiam a Síria, tanto em (Aleppo quanto em Damasco) e tensionam as relações com todos os demais países da região sob o silêncio incapaz ou cooptado de todos os organismos multilaterais do mundo hoje.

É TAREFA DOS POVOS DO MUNDO DETER O GENOCÍDIO SIONISTA E IMPEDIR A ESCALADA DA GUERRA IMPERIALISTA

Esses são os 7 maiores objetivos de Israel com o genocídio que está acontecendo. É possível dizer que Israel e Estados Unidos representam a maior ameaça para a paz no mundo hoje e que, se depender deles, a paz vai estar cada dia mais distante.

Cabe a nós lutarmos por ela, mobilizando de todas as formas. O próximo texto e vídeo será exatamente sobre isso: como nós vamos deter o genocídio de Israel e Estados Unidos?

Comente o que você achou, quais desses 7 principais objetivos você já conhecia, quais te surpreenderam, quais outros objetivos você também considera relevantes para Israel e ajude a compartilhar essa mensagem. Estamos em um momento decisivo da batalha para romper o bloqueio midiático, derrotar o boicote das mídias sociais e neutralizar os nefastos efeitos da propaganda de guerra e a guerra psicológica sionista e imperialista.

Vamos em solidariedade ao povo palestino e a todos os povos do mundo que possuem, como dizia Victor Jara, “o direito de viver em paz”.

“Os 7 objetivos ocultos de Israel” em outras redes:

Instagram: https://www.instagram.com/p/C0RkeslOY8u/

Youtube: https://www.instagram.com/p/C0RkeslOY8u/

TikTok: https://tiktok.com/@thiagoavilabrasil2 (a conta principal de Thiago foi banida 5 dias após o 7 de outubro)

Outros vídeos importantes:

5 coisas que você precisa saber sobre a Palestina (5,6 milhões de visualizações): https://www.instagram.com/p/CyJFucsOhfs/

História da Palestina: https://www.instagram.com/p/Cy_XihOuOcb/

Destaques – Thiago na Palestina (2019): https://www.instagram.com/stories/highlights/18037731733005691/

Ato no Congresso Nacional em solidariedade ao povo palestino: https://www.instagram.com/reel/CzcJH8HOjUK/

A maior mobilização pela Palestina da história do Brasil: https://www.instagram.com/reel/CzRhy-5u6D9/

Caminhos para a construção da paz: https://www.instagram.com/reel/CyuJXoguaMF/

Acabando com a islamofobia (com Sheikh Mohammed Al Bukai): https://www.instagram.com/reel/Cyosrwfugxu/

Live com Hyatt Omar e Thiago Ávila sobre a Palestina: https://www.instagram.com/reel/CyUY4nhAJf8/

Visita ao Egito – impressões finais: https://www.instagram.com/reel/Cz6OnUHubW1/

hudsonlacerda@diasporabr.com.br

A revolução genética de Mendel e o legado do racismo científico

Aqueles que acreditam que o eugenismo foi uma aberração temporária na ciência e que ele morreu com a Alemanha nazista se chocarão...

24 de agosto de 2022, 18:25 h Atualizado em 24 de agosto de 2022, 18:25

www.brasil247.com - https://www.brasil247.com/ideias/a-revolucao-genetica-de-mendel-e-o-legado-do-racismo-cientifico

Por Prabir Purkayastha / Globetrotter

Em julho, o mundo celebrou os #200 anos do nascimento de #GregorMendel, amplamente considerado como o “pai da #genética moderna” por sua descoberta das leis da #hereditariedade. Seus experimentos com #ervilhas, publicados em #1866 sob o título “Experimentos na hibridização de plantas”, identificaram traços dominantes e recessivos, como estes traços recessivos reaparecem em gerações futuras e em qual proporção. Seu trabalho permaneceria sem reconhecimento e #ignorado até outros três biólogos o replicarem em 1900.

Embora o trabalho de #Mendel seja central para a genética moderna, e seu uso de métodos experimentais e observações seja um modelo para a #ciência, eles também motivaram fenômenos obscuros ao qual a genética esteve estritamente ligada: a #eugenia e o #racismo. Mas a eugenia era muito mais do que uma “ciência” racial. Ele foi usado para arrazoar uma superioridade das #elites e raças dominantes, e em países como a #Índia também foi utilizado como uma justificação “científica” para o sistema de #castas.

Aqueles que acreditam que o eugenismo foi uma aberração temporária na ciência e que ele morreu com a #Alemanha #nazista se chocarão ao saber que até as maiores instituições e publicações que incluiam a palavra “eugenia” em nomes continuaram a operar, simplesmente alterando seus títulos. Os Anais da Eugenia se tornaram os Anais de Genética Humana; a Eugenics Review se tornou o Jornal de Ciência Biosocial; a Eugenics Quarterly mudou seu nome para Biodemografia e Biologia Social; e a Sociedade Eugênica foi renomeada para Instituto Galton. Diversos departamentos de grandes #universidades, que antes se chamavam “departamento de eugenia”, ou se tornaram “departamento de genética humana” ou “departamento de #biologia #social”.

Todos eles aparentemente deixaram de lado seu passado eugênico, mas a recorrência do debate sobre #QI e raça, a #sociobiologia, a teoria da #substituição e o crescimento do #nacionalismo #branco são todos marcadores de que o eugenismo está bastante vivo. Na Índia, a teoria racial toma a forma da crença de que arianos são “superiores”, e a pele clara é vista como um sinal de ancestralidade ariana.

Enquanto as câmaras de gás de #Hitler e o #genocídio de #judeus e #ciganos na Alemanha nazista tornaram difícil falar sobre a superioridade racial de certas raças, o #racismo #científico persiste na ciência. Ele é parte da justificação buscada pela elite para arrazoar sua posição superior com base em seus genes, e não no fato de terem herdado ou roubado sua riqueza. Trata-se de uma forma de retocar a #história de saques, escravidão e genocídio que acompanhou a colonização do mundo por um punhado de países da #Europa #ocidental.

Mas por que, sempre que tratamos de genética e história, a única história repetida é sobre como o biólogo Trofim #Lysenko e o Partido Comunista da #UniãoSoviética colocaram a #ideologia acima da ciência, rejeitando a genética? Por que as menções à genética na literatura popular só dizem respeito à Alemanha nazista e nunca sobre como as leis eugênicas da Alemanha foram #inspiradas diretamente nos #EstadosUnidos? Ou como o eugenismo na Alemanha e nos #EUA estavam profundamente interligados? Ou ainda como o legado de Mendel sobre a genética se tornou uma ferramenta na mão de estados racistas que incluíam os EUA e a #Grã-Bretanha? Por que é que a genética é repetidamente utilizada para apoiar teorias de superioridade da raça branca?

Mendel demonstrou que havia traços que eram herdados e, portanto, que temos genes que carregam certos marcadores que podem ser medidos, como a cor de uma flor ou a altura de uma planta. A #biologia de então não fazia ideia de quantos #genes nós tínhamos, quais traços poderiam ser passados à frente e quão geneticamente misturada é a população humana, etc. O próprio Mendel não tinha ideia alguma sobre os genes como portadores de #herança, e isso foi conhecido muito mais tarde.

Da genética para a #sociedade, a aplicação desses princípios foi um grande salto, que não era apoiado por nenhuma #evidência científica empírica. Todas as tentativas de demonstrar a superioridade de certas raças partiram de uma #presunção a priori de que tais raças eram superiores, e então partiam para tentar encontrar quais evidências poderiam ser selecionadas para sustentar tal tese. Muito do debate sobre QI e sociobiologia veio dessa abordagem na “ciência”. Em sua resenha do livro The Bell Curve, Bob Herbert escreveu que os autores Charles Murray e Richard Herrnstein haviam escrito uma peça de “pornografia racial”: “[…] colocando um manto de respeitabilidade sobre as visões obscenas e há muito desacreditadas dos racistas mais raivosos do mundo”.

Sobre esse tema, um pouco de história é necessário. O eugenismo era bastante popular no começo do século 20, tendo o apoio de grandes partidos e figuras políticas do Reino Unido e EUA. Não surpreendentemente, o ex-primeiro-ministro britânico Winston #Churchill era um notável apoiador do racismo científico, apesar do eugenismo também ter tido o apoio de alguns progressistas.

O fundador do eugenismo na Grã-Bretanha foi Francis #Galton, primo de Charles #Darwin. Galton foi pioneiro no uso de métodos estatísticos como distribuição regressiva e normal, assim como seus colaboradores e sucessores na Sociedade Eugênica, como Karl #Pearson e R.A. #Fisher. Aubrey Clayton escreve, em um ensaio para a revista Nautilus, sobre a conexão entre raça e ciência que “o que nós hoje entendemos como estatística veio em grande parte do trabalho de Galton, Pearson e Fisher, cujos nomes apareceram em termos práticos como ‘coeficiente de correlação de Pearson’ e ‘informações de Fisher’. O conceito de ‘significância estatística’ em particular – por décadas usado como medida sobre o valor de publicação de pesquisas empíricas – é diretamente ligado ao trio”.

Também foi Galton quem, com base em evidências supostamente científicas, defendeu a tese da superioridade dos britânicos em relação a africanos e outros povos nativos, bem como o argumento de que raças superiores deveriam substituir raças inferiores por meio da seleção artificial. Pearson ofereceu sua própria justificativa para o genocídio: “a história me mostra um caminho, e apenas um, pelo qual um alto estado de civilização foi produzido, a saber, a luta de raça com raça e a sobrevivência da raça física e mentalmente mais apta”.

O programa eugenista tinha dois lados: em um deles o estado deveria buscar encorajar a #seleção #artificial para melhorar o “estoque” populacional. No outro, o estado deveria tomar passos ativos para “eliminar” populações indesejáveis. A #esterilização de “indesejáveis” fazia parte das sociedades eugênicas tanto quanto encorajar os povos à seleção artificial.

Nos EUA, o eugenismo esteve centrado no Departamento de Registros Eugênicos de Cold Spring Harbor. Enquanto o Laboratório Cold Spring Harbor e suas publicações de pesquisa ainda ocupam um lugar importante nas ciências contemporâneas, originalmente ele veio do Departamento de Registros Eugênicos, que era operado como o centro intelectual do eugenismo e da “ciência” racial. Esse departamento foi sustentado por meio de doações filantrópicas da família #Rockefeller, o Instituto #Carnegie e muitos outros. Charles Davenport, um biólogo de Harvard, e seu companheiro Harry Laughlin, se tornaram figuras-chave para a aprovação de um conjunto de leis estaduais nos EUA que levaram à #esterilização #forçada de populações “impróprias”. Eles também contribuíram ativamente para a Lei de #Imigração de 1924, que definia #cotas para raças, sendo os #nórdicos priorizados enquanto europeus do leste ( #eslavos ), #asiáticos, #árabes, #africanos e #judeus eram virtualmente #barrados de entrar no país.

As leis de esterilização nos EUA, à época, eram controladas pelos estados. O juiz da Suprema Corte dos EUA, Oliver Wendell Holmes, o decano da jurisprudência liberal nos EUA, deu seu infame julgamento na Virgínia justificando a esterilização compulsória: “três gerações de débeis mentais são suficientes”, ele disse no caso Buck v. Bell. Carrie Buck e sua filha não eram débeis mentais; elas pagaram pelo pecado de serem pobres e consideradas ameaças à sociedade (uma sociedade que falhou com elas). Mais uma vez, o Departamento de Registros Eugênicos e Laughlin tiveram um papel importante ao prover “evidências científicas” para a esterilização dos “inadequados”.

Embora as leis raciais da Alemanha nazista sejam amplamente condenadas como a base para as câmaras de gás de Hitler, o próprio #Hitler #afirmou que sua #inspiração para as leis raciais da Alemanha foram as #leis #estadunidenses sobre esterilização e imigração. As #ligações estreitas entre os eugenistas estadunidenses e a Alemanha nazista são amplamente conhecidas e #documentadas. O livro War Against the Weak: Eugenics and America’s Campaign to Create a Master Race, de Edwin Black, descreve como “o ódio racial de Adolf Hitler se sustentava no trabalho de eugenistas estadunidenses”, de acordo com um artigo publicado no The Guardian em 2004. A Universidade de Heidelberg, enquanto isso, deu a Laughlin um título honorário por seu trabalho na “ciência da limpeza racial”.

Com a queda da Alemanha nazista, a eugenia foi desacreditada. Isso resultou na renomeação de institutos, departamentos e publicações que tinham afiliações com a eugenia, mas eles continuaram a fazer o mesmo trabalho. A #genética #humana e a #biologia #social se tornaram os #novos #nomes para a #eugenia. The Bell Curve foi publicado em 1990 como uma justificação do racismo, e um recente bestseller escrito por Nicholas Wade, ex-correspondente de ciências do jornal The New York Times, também apresenta teorias que há muito foram descartadas cientificamente. Cinquenta anos atrás, Richard Lewontin demonstrou que uma porção de apenas 6% a 7% das variações genéticas humanas existem entre os chamados “grupos raciais”. À época, a genética ainda estava no seu nascedouro. Mais tarde, os dados só fortaleceram a pesquisa de Lewontin.

Por que, enquanto criticamos as pesquisas científicas da União Soviética e os pecados de Lysenko há 80 anos, esquecemos da ciência racial e seu uso da genética?

A resposta é simples: atacar os princípios científicos e as teorias desenvolvidas pela União Soviética como um exemplo de ideologia posta acima da ciência é fácil. Isso torna Lysenko a norma para a ciência soviética; a ideologia superando a ciência pura. Mas por que a eugenia, com seu passado destrutivo e sua presença contínua na Europa e nos EUA, não é reconhecida como uma ideologia – uma que persistiu por mais de 100 anos e que continua a prosperar sob a roupagem moderna de debates sobre QI ou sociobiologia?

A resposta é que ela oferece ao racismo um #lugar dentro da ciência: mudar o nome de eugenia para sociobiologia a faz parecer uma ciência respeitável. O poder da ideologia não está nas ideias, mas na estrutura de nossas sociedades, nas quais os ricos e poderosos precisam de uma justificação para suas posições. É por isso que a “ciência” racial como #ideologia é um corolário natural do #capitalismo e de grupos como o #G7, o clube dos países ricos que busca criar uma “ordem internacional baseada em regras”. A “ciência” racial da sociobiologia é uma justificativa mais gentil do que a eugenia para o domínio do capital em casa e em estados ex-coloniais e sob ocupação no exterior. A luta pela ciência na genética deve ser travada dentro e fora da ciência, pois as duas dimensões estão intimamente conectadas.

Este artigo foi produzido pela Globetrotter e traduzido por Pedro Marin para a Revista Opera.

#PrabirPurkayastha é o editor fundador do Newsclick.in, uma plataforma de #mídia digital. Ele é um ativista da #ciência e do movimento pelo #softwarelivre.