#nazismo

hudsonlacerda@diasporabr.com.br
hudsonlacerda@diasporabr.com.br

O dia em que um general israelense viu o nazismo em seu país

Em 2016, o general israelense Yair Golan fazia comparações como a feita por Lula. Intelectuais como Einstein e Arendt também compararam extrema-direita israelense com os nazistas

Euclides Vasconcelos

Revista Opera

São Paulo (Brasil)
21 de fev de 2024 às 19:05

O ano era 2016. O major-general Yair Golan — então vice-chefe do Exército de Israel, o número dois da força — fez um discurso em memória das vítimas do Holocausto. Esse teria sido só mais um dos inúmeros discursos de um militar israelense com mais de 30 anos de serviço, não fossem as palavras que chamaram a atenção do mundo inteiro. No discurso, Golan afirmou-se preocupado: “Porque se há algo que me assusta na lembrança do Holocausto, é discernir as tendências nauseantes que ocorreram na Europa em geral, e na Alemanha especificamente naquela época, 70, 80 e 90 anos atrás, e ver evidências delas aqui entre nós no ano de 2016. (...) Afinal, não há nada mais simples e fácil do que odiar o estrangeiro, não há nada mais simples e fácil do que despertar medos e intimidar, não há nada mais simples e fácil do que se tornar bestial, renunciar aos próprios princípios e tornar-se presunçoso.”

As palavras despertaram a fúria imediata das principais figuras da direita do país – incluindo o já primeiro-ministro Benjamin Netanyahu –, e Golan foi levado a se retratar. Seu discurso era uma referência ao episódio em que o soldado israelense Elor Azaria foi filmado assassinando um palestino rendido na cidade de Hebron, não uma “comparação absurda” entre os períodos e países, complementou o general dias depois. O soldado em questão, que motivara a fala, recebeu apoio de diversos setores em Israel, inclusive de ministros do governo. Acabou sendo condenado em um tribunal militar, mas cumpriu apenas metade de sua sentença. Quando saiu da prisão, tornou-se uma celebridade digna de receber férias com tudo pago e passou a oferecer sessões de aconselhamento a soldados sobre como tratar palestinos. Um coach antes da popularização da palavra; o soldado virou herói nacional depois de matar um prisioneiro rendido.

A relação estabelecida pelo general não era novidade na época e não é novidade hoje. Muitos intelectuais, políticos e homens de Estado já traçaram esse paralelo – Albert Einstein, o físico mundialmente conhecido, entre eles. Em 1948, numa carta ao The New York Times, Einstein e outros intelectuais judeus da época denunciaram as semelhanças “no recém-criado Estado de Israel” e os “métodos, filosofia política e apelo social” de organizações nazistas e fascistas. Entre os signatários da carta está Hannah Arendt, cuja crítica ao Estado de Israel é convenientemente esquecida pela gama de acadêmicos e figuras públicas que costumam venerá-la pelo papel que cumpriu na demonização da União Soviética.

Mídia NINJA / Flickr
Homem se ajoelha sobre bandeira palestina durante ato unificado em São Paulo em solidariedade à Palestina. 19/07/2014

Esse assunto voltou outra vez à tona com a fala do presidente Lula no último dia 18, na coletiva de imprensa que encerrou o giro do presidente brasileiro no continente africano. Na ocasião, Lula disse que o único paralelo histórico ao que ocorre na Faixa de Gaza é a decisão de Hitler de exterminar os judeus da Europa, recurso batizado de “solução final” da questão judaica. A reação foi imediata. Autoridades israelenses, que há quatro meses conduzem na Faixa de Gaza uma das ofensivas mais brutais do século, foram a público repudiar a declaração e ameaçar o Brasil com retaliações, solicitando apoio de outros líderes mundiais, que até agora seguem em silêncio.

No Brasil, a fala despertou uma histeria vergonhosa dos veículos de imprensa, que se comportam como verdadeiras filiais em língua portuguesa dos mais reacionários portais de Israel. Serviu também para nos ajudar a separar o joio do trigo, uma vez que muitas figuras do chamado “sionismo de esquerda”, que até então se escondiam atrás do escudo moral da “crítica a Netanyahu”, deixaram claro que, na hora que a corda aperta, são mais sionistas que de esquerda.

Foi o caso dos protestos contra a simples menção das origens coloniais do nazismo, que em plena europa empreendeu um projeto que elevou à enésima potência os brutais experimentos de dominação e escravização que por quatro séculos a Europa realizou nas suas colônias na África, América, Ásia e Oceania. Essa afirmação, que não é nenhuma novidade, pode ser lida em toda sua riqueza em autores como Aimé Césaire, Frantz Fanon, Jean-Paul Sartre, Walter Rodney e até mesmo da já citada menina dos olhos do ocidente, Hannah Arendt, que na segunda parte do seu Origens do Totalitarismo estabelece as relações entre o colonialismo, o imperialismo e os “projetos totalitários”. Ainda assim, muitos se incomodaram com essa correlação quando a fiz recentemente em uma rede social, talvez porque evidencia que o esclarecimento europeu e o liberalismo, filhos da modernidade, carregam consigo as manchas de sangue da escravidão de três continentes e do extermínio de um sem-número de povos.

Alguns dos lamentosos se incomodaram com o “grande estrago” que, segundo eles, foi feito pelo historiador italiano Domenico Losurdo, que se popularizou no Brasil por resgatar as ligações entre o horror nazista e o liberalismo da burguesia europeia, pai e mãe do colonialismo que acorrentou todo o globo num mesmo sistema econômico, o capitalismo.

Diz muito que, deparados com tal afirmação, extensamente refletida por décadas, por autores de diversos continentes, o primeiro impulso de alguns “sionistas de esquerda” seja lamentar os que trabalharam para não deixar que essa ligação caia no esquecimento. Isso me faz lembrar que, em sua resposta a Lula, o carniceiro de Tel Aviv falou em uma “linha vermelha” que teria sido cruzada pelo presidente brasileiro ao defender os palestinos massacrados em Gaza. Sem querer, ele nos deu o parâmetro para olhar à nossa volta e ver muitos que, conscientes ou não, deram um passo à frente e cruzaram eles mesmos a linha vermelha de sangue inocente, ombreando com os que sempre criticaram. Em tempos de guerra como os nossos, a frase de Hemingway sobre as trincheiras soa cada vez mais alta em todos os ouvidos, mas poucos são os que conseguem escutar:

“– Quem estará nas trincheiras ao teu lado?
– E isso importa?
– Mais do que a própria guerra.”

(*) Euclides Vasconcelos é professor e historiador. Especialista em história militar e geopolítica.

#israel #sionismo #nazismo #Gaza #história #cultura

hudsonlacerda@diasporabr.com.br

“Externou o que está no #imaginário de muitos de nós”, diz coletivo de #judeus sobre falas de #Lula

“Dando um passo além nas contínuas denúncias dos #crimes cometidos por #Israel contra os palestinos, o presidente Lula causou furor ao fazer uma #comparação entre o que ocorre hoje em #Gaza e o que #Hitler fez com os judeus durante o #nazismo.

A comparação entre genocídios é sempre delicada pois a experiência vivenciada por cada povo afetado é inigualável. Cada um representa uma narrativa singular e dolorosa na história das comunidades vitimadas. Logo, não há como estabelecer qualquer hierarquia entre genocídios. É impossível estabelecer uma métrica objetiva para determinar o ‘pior’ #genocídio da história. Categorizar historicamente vítimas maiores ou menores é uma perigosa armadilha de reprodução de #racismo.

A contradição do povo judaico ser ora #vítima e agora #algoz é palpável, tenebrosa e desalentadora. Lula externou o que está no #imaginário de muitos de nós. Uma comparação que causa muita #dor a judias e judeus de todo mundo, que tiveram as suas vidas cindidas pelo genocídio dos judeus na Europa, e agora veem um crime similar sendo cometido, supostamente em seu #nome. Enquanto coletivo de judias e judeus, temos antepassados que foram vítimas do #Holocausto nazista, e entendemos que nosso imperativo ético é nos posicionarmos contra o genocídio do povo palestino e contra a utilização da nossa defesa como justificativa.

Se a criação e fundação de um Estado judaico foi uma medida de sobrevivência num mundo sitiado, ela logo se tornou um pesadelo. O Estado de Israel não trouxe emancipação verdadeira aos judeus pois a sua existência é mantida às custas da negação da autodeterminação dos palestinos. As lideranças israelenses seguem promovendo um massacre contra palestinos e ainda ameaçam a vida de judeus e judias em todo o mundo. #Israel representa hoje a #maior #fonte de #insegurança para todos os judeus do planeta ao usar nossa identidade como fachada e justificativa para sua campanha de #terror.

Por isso, defendemos e acreditamos que as palavras de Lula são de grande importância pois levantam questões relacionadas à urgência da ação, como um chamado definitivo dirigido a todos para agir diante do que ocorre em Gaza neste momento. Frente à incapacidade da #ONU e de várias organizações internacionais em conter a violência perpetrada por Israel em Gaza, destaca-se a importância vital da postura demonstrada por líderes internacionais como Lula, que levantam suas vozes contra o que é já considerado por incontáveis especialistas como um genocídio contra o povo palestino.

As palavras têm poder. Se a forma como Lula se expressou na ocasião foi pouco cuidadosa – tropeçando justamente neste ninho de comparações forçadas – sua fala tem o objetivo de atingir a imaginação e provocar uma crise moral sobre Israel. O pedido de impeachment protocolado pelos deputados bolsonaristas é uma medida descabida, assim como as acusações de antissemitismo – cujo real objetivo é deslegitimar o governo e a diplomacia brasileira. Não acreditamos que judeus brasileiros estão em risco por causa de sua declaração.

#Apoiamos as colocações do presidente Lula e cobramos que a radicalidade de suas palavras seja colocada em #prática. Seria um gesto diplomático de relevância gigantesca #romper todas as relações entre o estado brasileiro e Israel, em especial as relações #militares que também fortalecem a barbárie em terras brasileiras, com a compra de #armas e tecnologias de controle social que são usadas para atingir a vida do povo #negro nas #favelas. Convocar o embaixador brasileiro em Tel Aviv foi um passo ainda insuficiente nessa direção.

Por fim, convidamos a todas e todos, mas principalmente ao governo brasileiro a atender as demandas do movimento internacional de Boicote, Desinvestimento e Sanções ( #BDS ), liderado pelas bases da sociedade civil palestina. O povo palestino tem pressa e nossas ações têm poder.”

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/externou-o-que-esta-no-imaginario-de-muitos-de-nos-diz-coletivo-de-judeus-sobre-falas-de-lula/

hudsonlacerda@diasporabr.com.br
hudsonlacerda@diasporabr.com.br

“Não hesito em afirmar: o sionismo entrará para a história como um segundo Holocausto. Não somente pelo genocídio contra o povo palestino, mas porque destruiu e renegou os valores humanistas e democráticos que eram abraçados pela maioria dos judeus. O sionismo, em sua fase mais apodrecida e violenta, trocou esses valores pela cartilha daqueles que massacraram os judeus no Gueto de Varsóvia e nos campos de concentração.” (Breno Altman)

https://operamundi.uol.com.br/guerra-israel-x-palestina/84979/breno-altman-sionismo-e-o-segundo-holocausto-do-povo-judeu

#israel #Palestina #sionismo #Holocausto #judeu #nazismo #Istambul #Turquia

hudsonlacerda@diasporabr.com.br

O que difere o #nazismo do #sionismo?

Na opinião do ex-general israelense Amiram Levin, #nada.

https://www.viomundo.com.br/politica/video-o-que-difere-o-nazismo-do-sionismo-ex-general-do-exercito-de-israel-responde.html

“É difícil para nós, mas é verdade. Ande por Hebron, olhe para as ruas. Ruas onde os árabes não podem entrar, apenas judeus. É exatamente o que aconteceu ali, naquele país terrível”, declarou, em referência à Alemanha Nazista.

hudsonlacerda@diasporabr.com.br

Vlado, Jornalista morto pelo regime militar

#VladimirHerzog

1937 - Osijsk (Iugoslávia)
25/10/1975 - São Paulo (Brasil)
Daelcio Freitas
Da Redação, em São Paulo

#Jornalista, #professor da USP (Universidade de São Paulo) e #teatrólogo, Vlado Herzog nasceu em 1937 na cidade de Osijsk, #Iugoslávia. Filho de Zigmund Herzog e Zora Herzog, imigrou com os pais para o #Brasil em 1942. A família saiu da #Europa fugindo do #nazismo.

#Vlado foi criado em #SãoPaulo e se naturalizou brasileiro. Fez #Filosofia na #USP e tornou-se jornalista do jornal O Estado de S. Paulo em 1959.

Nesta época, #Vlado achava que o #nome soava exótico nos trópicos e #resolveu passar a assinar #Vladimir. No início da década de 60, casou-se com #Clarice. Com o #golpe militar de 1964, o casal resolveu passar uma temporada na #Inglaterra e Vladimir conseguiu trabalho na BBC de Londres. Lá, tiveram dois filhos, Ivo e André. Em 1968, a família voltou ao Brasil. Vlado trabalhou um ano em publicidade, depois na editoria de #cultura da revista Visão. Em 1975, foi escolhido pelo Secretário de Cultura de SP, José Mindlin, para dirigir o jornalismo da #TVCultura.

A morte

Na noite do dia 24 de outubro de 1975, o jornalista apresentou-se na sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/ Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o #PCB (Partido Comunista Brasileiro). No dia seguinte, foi morto aos 38 anos.

Segundo a versão oficial da época, ele teria se enforcado com o cinto do macacão de presidiário. Porém, de acordo com os #testemunhos de Jorge Benigno Jathay Duque Estrada e Rodolfo Konder, jornalistas presos na mesma época no DOI/CODI, Vladimir foi #assassinado sob torturas.

Como #Herzog era #judeu, o Shevra Kadish (comitê funerário judaico) recebeu o corpo e, ao prepará-lo para o funeral, o rabino percebeu que havia #marcas de #tortura no corpo do jornalista, prova de que o suicídio tinha sido forjado.

Em 1978, o legista Harry Shibata confirmou haver assinado o #laudo necroscópico da vítima - na qualidade de segundo perito - #sem examinar ou sequer ver o corpo. Contrariando os depoimentos de torturas e violências cometidas no interior do DOI-Codi, Shibata reconheceu que esteve algumas vezes naquele órgão para medicar presos, mas que os únicos casos que constatou foram de "micoses, gripes e similares".

Em 1978, a #Justiça responsabilizou a União por prisão ilegal, tortura e morte do jornalista. Em 1996, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos reconheceu que Herzog foi assassinado e decidiu conceder uma indenização para sua família.

A morte de Herzog foi um marco na #ditadura #militar (1964 - 1985). O triste episódio paralisou as redações de todos os jornais, rádios, televisões e revistas de São Paulo. Os donos dos veículos de comunicação fizeram um acordo com os jornalistas. Todos trabalhariam apenas uma hora, para que os jornais e revistas não deixassem de circular, e as emissoras de rádio e televisão continuassem com suas programações.

No dia 31 de outubro de 1975, foi realizado um culto ecumênico em memória de Herzog na Catedral da Sé, do qual participaram 8.000 pessoas, num protesto silencioso contra o regime.

No dia 17 de outubro de #2004, o caso voltou à mídia de forma chocante. O #jornal Correio Braziliense publicou #supostas #fotos inéditas do jornalista, nu, antes de ser morto sob custódia do Exército. Dias depois, o secretário de #Direitosumanos, ministro Nilmário Miranda, divulgou uma nota afirmando que as fotos #não #eram do jornalista.

Antes da revelação da #autenticidade das fotos, porém, o episodio havia causado um mal-estar entre o presidente Luiz Inácio #Lula da Silva e os militares, que publicaram nota dizendo que "as medidas tomadas pelas forças legais foram uma legítima resposta à violência dos que recusaram o diálogo".

Irritado, o #presidente da República considerou a nota "impertinente, equivocada e inoportuna" e exigiu #retratação pública do comandante da Força, general Francisco Albuquerque.

A #retratação, de cinco parágrafos, teve linha oposta à nota anterior. Dizia que o Exército lamentava a morte do jornalista Vladimir Herzog e que não queria reavivar "fatos de um passado trágico que ocorreram no Brasil".